Numa pequena cidade chamada Pé de Serra, o prefeito João Sombrero trabalhava dia e noite para melhorar a vida dos moradores. Ele buscava recursos junto a capital do Estado, trazia representantes de empresas para se instalarem no condado - que até então é marcado por uma grande falta de empregos. Este reino foi governado por mais de uma década e meia por um grupo político que estava acostumado com as benesses do poder - e que de certa forma e por muitos anos favoreceu pessoalmente um dos seres que serão citados a seguir.
O prefeito, apesar de ser "novo na política", já entende como o jogo funciona e mesmo mostrando esforços acompanhado de seus secretários, não faz tanto alarde como o mandatário anterior, que a meio tijolo colocado num obra, era assunto para várias semanas nas "rádias". Porém um novo problema: Cascudinho e um velho problema: Piolhinho, começaram a lhe criticar pelos seus meios de espalhar boatos com áudios e vídeos.
Piolinho e Cascudinho eram melhores amigos e moravam no assoalho de uma casa velha em um humilde bairro da cidade, de propriedade da senhora Dona Maria Guaxu, aquelas tias da feira que adoram fofocar na fila do banco para receber o "aposento". A dupla ultimamente vivia de causar confusão e, principalmente, de exigir alguma coisa nos bastidores. Um dia, enquanto Dona Maria assistia a uma entrevista do prefeito na "internética", Piolhinho teve uma ideia brilhante:
— Cascudinho, e se a gente fizesse uma parceria para criticar prefeito? Aí a gente pode dizer que estamos defendendo o povo, mas na verdade a gente tá defendendo o nosso lado.
Cascudinho, que apesar de parecer bobinho, não rasga nem queima dinheiro, achou a ideia genial. No dia seguinte, eles começaram a espalhar boatos pela cidade. Piolhinho, com sua voz grossa, dizia:
— O prefeito quer aumentar os impostos para comprar um iate!
E Cascudinho, com sua voz rouca, completava:
— Ele vai derrubar a pracinha para construir um estacionamento de helicópteros!
Os moradores, que adoravam uma fofoca, começaram a se preocupar e sabiam que absurdos desses eram inverdades. Piolhinho e Cascudinho, vendo a confusão que criaram, até criaram bordões conhecidos como "defender os interesses do povo" e "tô lutando pelo povo". Eles pediam moedas em troca de "protestos" e "abaixo-assinados".
O prefeito João Sombrero ficou perplexo. Ele não entendia de onde vinham tantas críticas, já que ele só queria o bem da cidade e tinha interesse em conversar com os dois numa boa. Um dia, o mandatário decidiu investigar pessoalmente e foi até a casa de Dona Maria, que era conhecida por ser a maior fofoqueira da região e de acolher no assoalho da sua morada os dois "seres".
Enquanto o prefeito conversava com Dona Maria, Piolhinho e Cascudinho, escondidos no assoalho da velha casa, começaram a cochichar:
— E se a gente pedir um dinheiro para o prefeito também? — sugeriu Piolinho.
— Boa ideia! — respondeu Cascudinho. — A gente pode dizer que vai parar de criticar ele se ele nos pagar!
Mas o prefeito, que tinha ouvidos afiados, ouviu os cochichos. Ele olhou para Dona Maria e disse:
— Dona Maria, que som baixinho está saindo do seu assoalho?
Dona Maria, sem entender nada, respondeu:
— Não, prefeito, deve ser o vento...
Foi então que Piolhinho e Cascudinho, num ato de audácia, pularam para o ombro do prefeito e começaram a negociar:
— Olha aqui, prefeito, a gente pode parar de te criticar, mas vai custar uma grana... — disse Piolhinho.
— É isso aí! — completou Cascudinho. — Ou a gente continua espalhando lorotas e intrigas por aí!
O prefeito, em vez de ficar bravo, começou a rir. Ele ajeitou o chapéu, pegou os dois com as mãos e disse:
— Vocês dois são os piores "opositores" que eu já vi! Mas tenho uma proposta melhor: por que não trabalham comigo? Em vez de espalhar mentiras, que tal ajudar a melhorar a cidade?
Piolhinho e Cascudinho ficaram surpresos. Ninguém nunca havia oferecido um emprego honesto para eles. Depois de pensar um pouco, Piolhinho disse:
— Mas a gente não tem ideia o que você quer da gente, eu na verdade nem quero papo!
— Claro que sabem! — respondeu o prefeito. — Vocês são ótimos em falar mal das pessoas, que tal usarem desse talento para a gente começar a trabalhar juntos e com diálogo eu entender quais são os problemas que vocês realmente querem me mostrar? Ou é puramente interesse próprio? Eu dou apoio, mas vocês tem que amolecer essa raiva e se ajudarem também.
Os dois ficaram em silêncio após ouvirem a proposta, pois foram surpreendidos e entendem que se caso utilizarem seus "talentos" em algo positivo, poderão decepcionar os personagens ocultos que realmente estão por trás de todas essas críticas, mantendo o escândalo e que como estão fora do poder depois de muitos anos, querem ver o circo pegar fogo.